Pensamentos, ideias, sentimentos de alguns alunos da turma do Ensino Recorrente sobre a obra “Um Pingo de Sola na Areia”

Um pingo de sol na areia é uma história de amor – um livro que tem como pano de fundo a ilha do Porto Santo, onde memórias, saudades e amor são encontrados e perdidos através das circunstâncias e da doença.

A protagonista reacende o seu relacionamento com o homem que sempre amou desde a infância, mas depois vive perdendo o seu amor mais uma vez.

Para uma obra em que um personagem tem Alzheimer, é comovente em termos do quão cheio de lembranças alegres e ternas partilhadas de uma juventude que passou na ilha dourada.

Chorei de tanto rir quanto de lágrimas ao ler este livro. Define sacrifício, vidas não cumpridas pelas promessas da juventude, mas cheias de perseverança e amor inabalável contra todas as probabilidades.

Amanda Underwood

O livro que lemos na escola e que foi escrito pela Sr.ª Graça Alves sob o título: “Um Pingo de Sol na Areia” surpreendeu-me bastante.

Em primeiro lugar, está escrito numa linguagem ligeiramente diferente da linguagem quotidiana e, além disso, conta uma história que pode ter acontecido na realidade ou ter sido completamente inventada. O objetivo da autora parece pouco claro no início do livro, mas com o tempo torna-se nítido e conduz o leitor através dos desfiladeiros da alma humana, do destino humano e obriga-o a mergulhar no abismo de uma história cheia de amor, amizade e arrependimento. A história retrata o destino de dois jovens, mais tarde adultos, unidos pelos laços da amizade infantil, do amor puro, das diferenças de carácter, da lágrima da separação, da doçura do regresso e da luta contra uma doença grave.

A autora leva-nos numa viagem pelas memórias, pelos recantos da alma humana, não nos poupando à doçura do verão, ao sabor amargo da derrota, ao fardo da luta e aos raios de esperança até ao fim do inevitável…

É extremamente interessante conhecer o Porto Santo na perspetiva de uma criança, de uma adolescente e de uma mulher adulta e, curiosamente, não se vê qualquer diferença na perceção das coisas mais simples que acompanham cada pessoa. Daí a conclusão de que, de facto, cada um de nós quer ver tudo com os olhos de uma criança porque isso permite uma perceção simplificada da vida, bem mais suportável do que a realidade. Faz-me lembrar as palavras do extraordinário pintor Wlastimir Hofman: “A boca de uma criança fala verdade, beleza, bondade – é o espelho da morte, aquela morte que é tão frequentemente encontrada nas minhas pinturas […] Não há máscaras nos seus rostos, no entanto o rosto humano é o material básico na maioria das minhas composições”.

A autora usou a mesma narrativa, a mesma forma de expressar os seus pensamentos – através da simplicidade.

Não vou escrever um resumo deste livro, quem quiser que o leia.

Para mim, o mais importante é a emoção que senti ao ouvir e ler esta história, que é simultaneamente:

– Um grito de desespero pela impossibilidade de parar a morte apesar dos esforços heroicos;

– E uma bela descrição da singularidade da ilha de Porto Santo – pequena, simples e bela na sua simplicidade e no entanto, magnífica como um lugar para crescer, para viver a vida em pleno até ao último suspiro, uma esperança inextinguível e um lugar de descanso eterno.

A imagem do Porto Santo, que se insinua na vida das personagens, que chega mesmo a impregná-las, mas que se encerra subtilmente num quadro natural pintado de areia, vento e sol, é retratada com uma beleza incrível. A história é contada de tal forma que todos os fios estão ligados por um denominador comum – o amor. E não é importante quem ama quem, como e porquê… O que importa é o valor e o poder do amor e a sua maturidade, quando, tal como uma planta, só cresce, amadurece e dá frutos quando é alimentada por um ser humano ajudado pelas forças da natureza… ou será o contrário?

Devo ainda acrescentar que a língua portuguesa é para mim um grande enigma, sobretudo porque ler português, analisar as palavras e as frases, despertou em mim um certo romantismo. Há muito tempo que não me sentia tão comovido, tocado e afetado pelas palavras, pelos seus significados literais e pelos sentidos ocultos nas entrelinhas.

É a segunda vez que leio um livro que me desperta emoções tão fortes e devo admitir que é extraordinário.

Muitos parabéns à senhora Alves, excelente trabalho.

Arkadiusz Radosław

Mais um livro, pequeno, mas tão cheio de sentimentos.

Apesar do facto de eu não gostar de histórias tristes (mas esta é a minha peculiaridade), gostei imenso da maneira de escrever da autora.

Parece, entre as linhas, que penetra na nossa cabeça, invade o coração, infiltra-se no corpo.

Parece que nos tornamos o primeiro ator dessa história, parece que protagonizamos a ação.

Uma história tão breve quanto foi tão longo o tempo que a autora tinha passado à espera do seu amor.

Palavras simples, palavras que marcam, que se mantêm, que perduram no tempo e no espaço após a conclusão da leitura.

Duilia Graziano

A autora, sob a personalidade de Ana Maria, conta uma história que começa num plano neutro, até que o odiado telefone toca – uma chamada em que aparece uma voz do passado – permite que uma réstia de esperança interrompa uma sessão de arrumação antes da mudança.

É um amante – na verdade, é Oamante – de uma época remota no passado.

Eles reúnem-se e passam alguns anos juntos, sem que sejam dados detalhes, até que o Jota recebe um diagnóstico devastador.

Após uma negação inicial, a Ana Maria tem de aprender a aceitar que a mente de Jota está a desaparecer. Para impedir o avanço da doença, Ana Maria decide mudar-se para Porto Santo, o refúgio do seu antigo amor. As tentativas de reavivar as memórias de Jota não provocam qualquer resposta e, em desespero, Ana Maria promete ficar com ele até ao fim. No entanto, o ato de lamber uvas na praia desperta o reconhecimento dela. Mas só lhes restam alguns dias juntos… 

As palavras são utilizadas em combinações inesperadas, muitas vezes deixando de fora os pensamentos precedentes e seguintes para que a imaginação do leitor reúna as palavras em falta, atraindo-o, envolvendo-o na história, evocando assim emoções fortes e ilustrando as situações de forma vívida.

A história dá que pensar e eu encontro que por detrás desta tristeza esconde-se uma outra tragédia. A narrativa é contada do ponto de vista de Ana Maria, pelo que, para além da obrigação dos pais de Jota, apenas podemos supor as motivações da sua saída da ilha e o impacto que isso teve em Jota nos anos seguintes. A Ana Maria conta o impacto que teve sobre ela.

Apesar do Jota ter prometido voltar para a vir buscar, compreendemos que a sua afeição por Ana Maria foi relegada para segundo plano pelos estudos, pelas viagens e, finalmente, pelo casamento com outra mulher.

Não sabemos o que aconteceu neste matrimónio. Terminou numa separação? Ou ela faleceu? É compreensível que a Ana Maria não se debruce sobre o assunto, apenas diz que ele escreveu algumas vezes, mas nunca a visitou, fez perguntas para manter a conversa, mas sem verdadeiro interesse, depois – o silêncio, e como ela esperou em vão.

Devemos presumir que o Jota teve uma vida interessante com a ausência da Ana Maria. Por isso, vivia bem e não se preocupava com a promessa que tinha feito à Ana Maria. Para mim, é óbvio que Jota estava novamente sozinho e optou pelo caminho mais fácil para recuperar a companhia, telefonando à sua antiga amante.

A tragédia que mencionei está aqui, enquanto Jota podia preencher a sua vida com satisfação, a sua amante, que tinha a impressão de que ele era o amor da sua vida – o que é muito habitual naquela idade – ficou para trás. Normalmente, é aquele que é deixado para trás que sofre mais. Enquanto ele seguiu em frente, ela ficou para trás, a sua única aventura amorosa descrita nunca foi tão apaixonada ou envolvente como a relação com Jota.

É uma falácia comparar um amante com o outro. Sem comparação, ela poderia ter apreciado outras qualidades ou ter tido a coragem de terminar a relação – e talvez estar aberta a uma relação mais encorajadora. É tradição que a mulher deva esperar pelo suposto amor da sua vida e não seguir em frente? Que desperdício!

Talvez a autora quisesse sugerir isto. Depois de Jota ter falecido, como que por vingança, ela diz-lhe que agora é a vez dele de esperar.  

Michael Gut

A história capturou-me desde a primeira frase “Guardamos as casas dentro de nós”.

Para mim tem muito significado, pois construímos casas na terra, moramos nelas e preparamo-nos durante toda a vida para ir para o lar definitivo quando não estivermos mais neste mundo.

Uma história cheia de nuances sensoriais, metáforas e descrições que fizeram com que eu me sentisse a protagonista, observando como o passado pode ser vivido novamente no presente e como a força do amor, da paciência e do comprometimento pontilham os palcos deste canto do mundo onde o Sol sempre se revela claramente na areia.

Milena Fuentes

Achei esse livro muito difícil de entender. Não entendi a linha sequencial. Raramente leio ficção e passei grande parte da minha vida profissional lendo manuais técnicos. Os manuais técnicos são elaborados para serem claros e fornecer respostas e explicações. Este livro é ficção e não fornece respostas e explicações.

Contudo, gostei das histórias de infância e adolescência das férias no Porto Santo, das descrições da doença de Alzheimer do Jota e das angústias da Ana Maria.

Ken Taylor

Eu achei o livro difícil porque a minha compreensão em português não é boa, mas eu acredito que se voltar a ler este livro daqui a uns meses perceberei melhor a linguagem.

O livro é muito poético, o que acrescenta carácter ao livro, acrescenta emoção e uma compreensão mais profunda do amor e o que isso pode levar uma pessoa a fazer para salvar o amor de alguém…

É profundamente importante que nós, como humanos, entendamos isto: sermos capazes de salvar um ente querido da melhor forma que conhecemos.

Infelizmente o Jota teve uma doença que nenhum amor conseguiu salvar, mas morreu sabendo que era amado! Um livro muito profundo e descritivo!

Rui Campanário

Nota da professora: foi deveras impressionante ver a emoção a transbordar na face de alguns alunos durante as partes mais tristes do enredo. Eu própria não consegui evitar que a tristeza inundasse meu rosto quando li esta história pela primeira vez. O leitor, mesmo sem querer, é levado a entrar na história pois a autora faz com que isso aconteça de modo brilhante e natural.

É uma história que não se lê meramente, é uma história que se sente.

Outro aspeto que gostaria de destacar é a diversidade de perspetivas perante uma mesma narrativa que é tão variável consoante a formação específica de cada aluno, as suas vivências, as suas personalidades e o nível de aprendizagem da língua portuguesa que possuem. Todos estes pormenores influenciam a compreensão e a assimilação do texto e do próprio enredo da história.

Título: Pensamentos, ideias, sentimentos de alguns alunos da turma do Ensino Recorrente sobre a obra “Um Pingo de Sola na Areia”

Autores: formandos e professora da turma do ER

Escola Básica e Secundária com PE e Creche Prof. Dr. Francisco Freitas Branco