Cantigas

Naquela altura não havia luz e as pessoas andavam de lanternas, nas veredas estreitas, descalços a cantar ou a acompanhar. Todos os anos percorriam os mesmos caminhos. Iam por um lado e vinham por outro, tudo em veredas.

Durante a época do Natal as cantigas eram ditas no momento, ou seja, eram improvisadas. Tiravam versos da sua mente e falavam a cantarolar, uns para os outros sobre o menino Jesus, a vida dos compadres e das comadres. Às vezes, diziam coisas da família para rematar com o menino Jesus. Tudo era tirado da mente. Respondiam pegando na palavra do outro. E assim faziam repetidamente.

Aguentavam noites inteiras a cantar ao desafio, descalços com os pés no lameiro.

Quando chegavam ao presépio cantavam ao menino Jesus e aos frutos, pedindo que no ano seguinte tivesse o dobro.

Ó meu menino Jesus

Eu venho das levadinhas

Trago peros   e laranjas

Ovos das minhas galinhas

Ó meu menino Jesus

Cade da vossa camisinha

Lá me ficou na ribeira

Em cima de uma pedrinha

Ó meu menino Jesus

Cade do vosso anel de ouro

Lá me ficou na ribeira

Na pedra do lavadouro

Ó meu menino Jesus

Onde está o teu camisote

Lá me ficou por bandeira

Na igreja de São Roque

Ó meu menino Jesus

Diga-me que noite é esta

Hoje é dia de Natal

Amanhã dia de festa

Ó meu menino Jesus

Dizei ao pai e à mãe

Que mate o porquinho

Porque a festa já lá vem

Ó meu menino Jesus

Cadê as vossas meiazinhas

Lá me ficou na ribeira

Onde lavei as perninhas