Posso pensar numa mudança de profissão?
Já antes das férias da primavera ou da Páscoa, eu sabia que deveria ser apresentada uma descrição exaustiva das travessuras efetuadas durante esse período na primeira aula do 3.º período.
Não estava com disposições para me divorciar de outro dente ofensivo – nem tinha vontade de incitar qualquer dente a ser ofensivo. Seria demasiado pedir uma amputação voluntária só para apresentar uma descrição suculenta e detalhada, o divórcio já era suficiente para assombrar os fracos de espírito.
Por conseguinte, bater com um martelo no meu polegar e depois correr para as urgências só para descrever em primeira mão as peripécias do médico estaria fora de questão. Isto sem considerar a dor colateral, que, devido à quantidade em questão, mereceria uma descrição separada.
Dediquei muito do meu tempo a refletir sobre as minhas opções. Posso pensar numa mudança de profissão?
Utilizei muitas palavras com significado, sequenciadas de uma forma que pode ser divertida, mas que carece de qualquer informação tangível. Então, devo tornar-me um comediante?
Um comediante bem-sucedido tem de estar muito atento à atualidade e sentir a dinâmica do sentimento do público. É um trabalho árduo e requer preparação para que a audiência possa ser confrontada com uma quantidade, cuidadosamente equilibrada, de ridículo e ofensa.
Mas, como estou reformado, o trabalho árduo está fora de questão.
Ou posso tornar-me um político. O único trabalho seria escolher as minhas palavras de modo a parecerem importantes, mas sem significado, prometer resultados espetaculares que ninguém leva a sério e que, por isso, não precisam de ser realizados. Seria aplaudido em inaugurações e homenagens, sorriria para toda a gente e as minhas fotografias apareceriam na imprensa e nas redes sociais.
Acima de tudo, podia desviar a atenção do necessário para o desnecessário, como agora desviei a atenção das nossas atividades durante as férias da primavera para este absurdo. Penso que há aqui uma mensagem…
Título: Posso pensar numa mudança de profissão?
Categoria do artigo: texto de aluno
Autor: Michael Gut
Escola Básica e Secundária com PE e Creche Prof. Dr. Francisco Freitas Branco