A minha viagem atlântica

Depois de mais de três anos sem navegar, eu tinha começado a enferrujar e era altura de ir para o mar. Quando surgiu a oportunidade de atravessar a parte oriental do Atlântico num grande iate de 15 metros, de Gibraltar à Madeira, inscrevi-me logo na tripulação. A viagem exigia preparação, nomeadamente o pagamento da viagem até lá e a subscrição de um seguro para quem viaja para fora da Europa, para além de desportos radicais e do perigo das orcas.

A viagem começou no dia 9 de setembro no ferry Lobo Marinho para a Madeira, onde tive de esperar algumas horas pelo meu voo para Lisboa.

Em Lisboa, esperei uma hora e meia para mudar de avião…. e tivemos um atraso devido ao nevoeiro, pelo que voámos para Málaga uma hora mais tarde.

Em Málaga, verificou-se que a minha bagagem tinha sido deixada em Lisboa, mas o extravio foi resolvido e chegou noutro avião. Fiquei um pouco aborrecido com esta situação…. Caramba! Fogo!

A etapa seguinte, já no autocarro, foi a viagem até La Linea de Concepcion – a parte espanhola de Gibraltar. Aí, depois de passar a noite num hotel, cheguei ao iate na manhã do dia 11 de setembro.

A tripulação era composta por oito pessoas, divididas em quatro cabinas duplas. Acontece que a mulher que deveria estar no camarote comigo, uma completa desconhecida, não tinha chegado ao iate e tinha-se demitido…. E como não acreditar nos poderes mágicos das esposas! A Isabela (minha esposa) deve ter feito muita magia para me “proteger” de más influências….

Na manhã seguinte, com a maré cheia, iniciámos a nossa viagem através do estreito de Gibraltar até à África Ocidental. O nosso destino final era Rabat, em Marrocos.

Chegámos lá após um dia e uma noite de navegação. Ficámos em Rabat durante três dias, porque a tripulação e o capitão estavam de visita a Marrocos e eu fiquei no iate. Não gosto muito de excursões nos países árabes, fui fazer um cruzeiro, não para vaguear nos desertos e, além disso, havia algumas coisas para arranjar no iate.

Havia um café na marina, mas o café nem se comparava ao do Baretto, no Porto Santo! Viva o siciliano Giovanni!

De manhã, novamente com a maré alta, partimos finalmente para o Porto Santo. Estávamos um pouco apreensivos porque as previsões meteorológicas não eram encorajadoras: ondulação morta ao largo de 5-6 m de altura, ventos variáveis, alguma chuva. Tudo por causa de uma poderosa baixa a oeste de Portugal Continental. Por incrível que pareça, o seu impacto era percetível mesmo a mil quilómetros de distância.

Os receios revelaram-se infundados, a ondulação era grande mas longa e carregava o iate lindamente, o vento estabilizou após quinze horas e “voámos” para o Porto Santo a uma velocidade média de 9 nós.

Este é o tipo de navegação que eu estava à espera há muito tempo! Noites cheias de estrelas, vento nas velas, o som da água no mar e ninguém no horizonte. Durante os quatro dias e noites da viagem, encontrámos apenas dois iates, algumas embarcações e vimos, ao longe, bandos de golfinhos, peixes voadores e a barbatana dorsal de uma orca. Foi ótimo: muita navegação, pouco sono e boa comida, sem enjoos.

Chegámos à marina de Porto Santo por volta das 4h da manhã de 20 de setembro, ficámos ancorados e, às 10h, Isabela esperava-nos em terra com um carro amarelo, porque a tripulação queria mesmo dar a volta à nossa ilha. O passeio em dois carros demorou cinco horas, eles gostaram tanto que quiseram ir a todo o lado. À noite, jantámos espetada e outras comidas boas na nossa casa. A a Isabela fez pão e bolo – metade da tripulação já quer viver aqui….

No dia seguinte, navegámos para a Madeira, primeiro para ancorar na Baía de D’Abra e depois para a marina da Quinta de Lorde. Aí, a tripulação passeou de carro pela Madeira e eu bebi rum no bar…. com a mulher do capitão. Estava a brincar, a mulher do capitão bebeu vinho tinto.

No sábado de manhã, dia 23 de setembro, o nosso cruzeiro chegou ao fim. Levámos as pessoas aos seus aviões e, ao final da tarde, regressámos os dois, eu e o comandante ao Porto Santo. No caminho, apanhámos um peixe de 1,5 kg para o jantar. Era Seriola dumerili (charuteiro-catarino). De manhã, consegui fazer um acordo com a marina para que o iate ficasse durante os próximos 5 meses na marina do Porto Santo, o que significa que o iate já lá está e quem sabe o que vai acontecer no futuro. Tenho de admitir que a minha mulher tem razão – o mar passa-me um pente fino nos pensamentos e faz de mim uma pessoa diferente, não por muito tempo, é certo, mas posso sempre voltar ao mar….

Título: A minha viagem atlântica

Categoria do artigo: texto de aluno

Autor: Arcadiusz Radołsaw

Escola Básica e Secundária com PE e Creche Prof. Dr. Francisco Freitas Branco