Visitas ao Lar

Neste ano letivo recebemos no lar da Bela Vista várias pessoas que vieram ensinar-nos muitas coisas sobre assuntos de que pouco sabíamos antes.

Tudo começou no final de dezembro com a artista multimédia Tatiana Teixeira que, começando por expor as suas origens rurais ligadas aos vimes, profissão dos seus avós, logo nos mostrou trabalhos seus em que esta arte a inspirou. A artista manipula imagens ligadas à natureza, aos animais, a figuras icónicas religiosas e espirituais. Apreciámos vários desses quadros da sua exposição do ano de 2021 na capela do Convento de São Bernardino, em Câmara de Lobos. A técnica utilizada foi a impressão sobre madeira e posteriormente recorreu à pintura para finalizar as obras. A Tatiana terminou a sua apresentação projetando uns vídeos que realizou a partir de imagens da sua zona da Camacha.

A segunda visita foi do escritor, poeta, artista plástico e investigador madeirense Miguel Santos que veio apresentar o seu último livro de poesia – “Génese” – que foi escrito num retiro em são Vicente durante duas semanas. O Miguel começou por fazer passar pela sala outros livros seus dedicados à ecologia, à natureza e à espiritualidade e seguiu-se uma leitura, por parte dos formandos, de vários poemas, facto que emocionou visivelmente o poeta. Na última parte, foi trabalhada a temática da espiritualidade e procedeu-se a uma breve visualização e meditação coletiva que acalmou imenso todos os participantes, muitos dos quais nunca haviam realizado um exercício tão relaxante.

Seguiu-se a visita da artista plástica e investigadora Andreia Nóbrega que nos veio ensinar sobre pigmentos naturais obtidos a partir de folhas, flores e plantas, principalmente de origem endémica da Ilha da Madeira. A sua exposição na Quinta do Revoredo, em Santa Cruz, “Tinctorium”, do ano de 2022, serviu de mote para a conversa, onde pudemos observar e mesmo sentir a transformação destas espécies, algumas endémicas, em tintas naturais que podem ser usadas na pintura, por exemplo. A título de curiosidade, aprendemos que até a urina humana serve para se produzir um pigmento especial. E não cheira nada mal!

O quarto convidado foi o jovem saxofonista Miguel Ângelo Dantas, que trouxe recortes de jornais e de revistas em que o seu trabalho como músico foi divulgado e reconhecido, inclusivamente no estrangeiro. Depois de ter tocado vários temas na sala de aula, subimos três pisos, como uma fanfarra, animando o dia-a-dia monótono do lar, até nos concentrarmos na sala de convívio do piso Menos Um, onde vários utentes da instituição se juntaram a nós para apreciarmos juntos o talento do Miguel, que não parava de tocar temas do folclore madeirense, passando pela música ligeira, pelo jazz e chegando mesmo a tocar temas ligados às músicas do mundo. Foi um final de manhã memorável!

Depois do Miguel visitou-nos a Marcela Costa da Direção Regional do Arquivo e da Biblioteca da Madeira que nos trouxe a sua malinha “Salette” dedicada à poesia visual portuguesa. De dentro da mala, produzida de propósito pela equipa de restauro e conservação da DRABM, saltaram literalmente poemas visuais da autoria de poetas madeirenses e portugueses. Nem todos foram fáceis de ler, mas ficamos com curiosidade sobre o processo que lhes deu vida. Em seguida, através da escrita, do recorte e da colagem de poemas escritos pelos alunos, orientados pela Marcela e pelo professor, conseguimos realizar os nossos próprios poemas visuais que ficaram a decorar o espaço da sala de aula. Foi uma tarefa que teve continuidade nas semanas seguintes por exigir bastante concentração e destreza manual.

A Fedra Espiga Pinto é designer e proprietária de uma empresa de Comunicação e Publicidade. Trouxe dois artigos que produziu nos últimos tempos: um livro de arte e embalagens de tabletes de chocolate. O livro procura registar obras da famosa artista madeirense Teresa Gonçalves Lobo e foi cuidadosamente pensado e concebido, com um papel resistente e brilhante e fotografias em tamanho aumentado de pinturas da artista. As embalagens comunicam com a tradição da calçada madeirense, única no mundo, que sofreu uma metamorfose na sua tonalidade, adquirindo a cor do chocolate de leite ou preto. – Quem diria que a calçada e o chocolate casassem com tanta harmonia?! – comentavam alguns formandos desejosos de fazer a prova. Houve um debate sobre as profissões dos alunos e dos modos de vida de antigamente no término da apresentação.

O Miguel Leitão Jardim é advogado e apaixonado pela fotografia. O nosso último convidado, que nos visitará no mês de julho, virá expor a temática da fotografia familiar e, quem sabe, conquistar algum dos alunos para a sua paixão. No próximo ano saberemos como correu.

Até lá e umas ótimas férias a todos!

Artigo redigido pelo professor Pedro Vale e pelos formandos do curso de Ensino Recorrente do Lar da Bela Vista, no Funchal