Ultravida

Foi há muitos anos, num dia de chuva e trovoada quando eu morri. Ainda não sei porquê…

Eu tinha morado numa casinha linda na serra que era cercada por campos cheios de flores silvestres.

Imagine a minha surpresa quando percebi que a minha casa agora era um castelo abandonado. Havia muitos quartos grandes e vazios e escadarias estreitas no seu interior. Que divertido!

Passava muitos anos subindo e descendo as escadas, sem precisar segurar-me no corrimão, enquanto gritava a plenos pulmões. Ninguém vinha. As estações vieram e foram-se e eu comecei a sentir-me cada vez mais sozinho.

Na primavera e no verão, eu olhava pelas janelas sem vidro e via as flores desabrocharem e depois morrerem, como eu… O meu coração encheu-se de uma tristeza profunda.

Foi então que decidi preencher os meus dias com tarefas domésticas. Que aborrecido!

Dia após dia, varria os montes de poeira nos cantos de cada quarto, enquanto chorava sem parar.

De repente, numa bela manhã de primavera, ouvi vozes baixinhas a sussurrar:

-Se faz favor, fantasminha, continue chorando.

As minhas lágrimas tinham-se tornado fonte de alegria. As gotinhas regavam as sementes das flores que se espalhavam pelas janelas abertas do castelo e depositavam-se na poeira que eu varria todos os dias.

Continuei chorando, varrendo e gritando com toda a força da minha voz fantasmagórica.

O castelo encheu-se de uma multidão de pessoas. Vieram admirar as flores milagrosas do castelo assombrado. Foi assim que a primavera e o verão se tornaram as estações mais felizes e as menos solitárias da minha ultravida.

Título: Ultravida

Categoria do artigo: texto de aluno

Autora: Amanda Jayne Underwood

Escola Básica do 1.º Ciclo com PE e Creche do Porto Santo