Reflexões acerca da obra “O Principezinho”
INTRODUÇÃO
A exploração desta obra foi deveras enriquecedora para mim. Regozijo e emoção foi o que eu senti desde o princípio até ao fim, porque afinal é mesmo disso que se trata – “Só se vê bem com o coração”. Foi tão bonito ver as faces dos formandos emocionados com a beleza, ensinamentos, idealismo, altruísmo, persistência, simbologia, linguagem poética (mas ao mesmo tempo simples) e profundidade da obra e, foi até difícil, ouvir as vozes embargadas pela tristeza nos excertos mais pesarosos. Foi possível captar na expressividade vocal, corporal e facial, apesar das máscaras, no modo como enfatizavam algumas sílabas ou palavras a componente emocional de cada um, a melancolia, a alegria, o receio e a identificação de cada formando com as diversas facetas das personagens…
Porém, o enriquecimento que resultou desta atividade não foi apenas devido ao conteúdo da obra em si mesmo, pois eu já o conhecia profundamente, mas adveio das partilhas feitas pelos formandos. Foi uma magnífica forma de conhecê-los melhor e, sobretudo, conhecer a postura deles perante a vida e as perspetivas que têm da mesma.
A cegueira com a qual algumas pessoas vivem e que lhes tolda o entendimento (muitas nem se apercebem dela!), transportou-me para a prodigiosa obra de Saramago “Ensaio sobre a Cegueira” lida há alguns anos. Será que não estamos todos um pouco cegos pelo egoísmo e pelos julgamentos que fazemos baseados na aparência dos factos?! Será que não viveríamos todos muito melhor se víssemos o mundo pela perspetiva de uma criança?! E levar-me-á, conduzida pela sugestão de uma formanda, à leitura de outra obra que eu ainda não tive oportunidade de ler “O Alquimista” de Paulo Coelho.
Os momentos de leitura e exploração da história foram tão prazerosos que, quase, não posso considerá-los “trabalho”. Foi como se eu estivesse numa roda de amigos ou familiares a ler e a conversar informalmente sobre algo que gosto de fazer. O mesmo não posso afirmar da planificação da atividade, pois pretendia elaborar um guião de leitura que servisse para verificar se os formandos estavam a compreender a história e, simultaneamente, permitisse a organização de ideias acerca da mesma, a sistematização de conhecimentos e o enriquecimento do vocabulário, uma vez que a grande maioria da turma está a aprender português como língua não materna. Metaforicamente falando, posso afirmar convictamente que esta atividade, para mim, é semelhante àquela água retirada do poço que o principezinho e o piloto encontraram em pleno deserto: foi “boa para o coração”.
Esta obra, foi sem sombra de dúvidas, uma excelente escolha, não só devido aos acontecimentos atuais que nos condicionam a vida e o modo como a encaramos, que submergem o mundo num mar de sofrimento e dor, mas porque esta turma, repleta de pessoas incríveis, CATIVOU-ME desde o início do ano letivo. E agora, não há volta a dar, pois somos responsáveis uns pelos outros! Antes, estes formandos eram pessoas iguais a cinco mil outras que eu encontrava na rua. Eu não as conhecia e elas não me conheciam, não tínhamos importância umas para as outras. Atualmente, estes formandos são únicos no mundo!
Nenhuma das seguintes reflexões pretende ser uma análise crítica da maravilhosa obra, pois afinal já existem tantas disponíveis para quem quiser lê-las. São apenas a extravasão dos sentimentos provocados pela mesma, são simples reflexões que foram desencadeadas pela leitura.
A docente da turma do Ensino Recorrente
Margarida Vasconcelos
I
Esta obra é a história da vida frágil – do amor, da amizade, da futilidade e da perda de inocência. Ou seja, a história de uma pessoa que aprendeu a desenhar novamente!
Não sabemos se o piloto estava com tanta sede que imaginou o principezinho – como uma alucinação ou miragem no deserto. Contudo, não tem importância saber tal resposta, porque a obra é como um conto de fadas – só as crianças sabem a verdade!
Amanda Underwood
II
“O Principezinho” é um conto de fadas simples e gentil, amado por jovens e velhos.
Cada página deste conto de fadas traz verdades simples e está cheia de calor, luz e busca pelo sentido da vida.
“Todos os adultos já foram crianças”, esta frase do autor expressa toda uma filosofia. O pequeno príncipe vive em cada pessoa e manifesta-se cada vez menos à medida que envelhecemos. Os adultos não estão interessados em perguntas, eles estão preocupados com quanto dinheiro ganham, outros querem ser amados ou pretendem possuir as estrelas. Os adultos amam números, para eles é importante quanto e não querem responder à pergunta “porquê”. Porque precisas de poder? Porque necessitas beber? Porque contas as estrelas?…
Mas, então aparece um pequeno príncipe que olha para tudo com espontaneidade infantil, que não consegue entender os adultos, porque para ele outra coisa é importante: o seu pequeno mundo, a sua amada rosa, aquela que ele protegeu e guardou. Mundo pequeno para uma pessoa pequena. É muito importante não perder a sua rosa, isto é, o verdadeiro significado da vida. Uma pessoa tem de acreditar em algo grande e sublime para encher a alma e o coração com algo bonito.
Tu só tens de pensar, acreditar e os milagres acontecem!
Um dos destaques daquilo que sucede com o principezinho na Terra é o encontro com um jardim cheio de rosas. Ele ficou muito preocupado, porque pensou que a sua rosa era a única rosa no mundo e só no final do livro ele percebeu que era assim. A sua rosa é a mais amada e especial. Ele quer proteger e cuidar apenas daquela flor, essa é a sua rosa!
Na infância entendemos os valores eternos do amor, da amizade, da responsabilidade e a frase que ressoa do caráter da raposa “só o coração está alerta, você não pode ver a coisa mais importante com seus próprios olhos” – é muito marcante! O escritor sugere que tudo deve ser visto com o coração.
Lendo este conto de fadas, nós entendemos que temos de olhar para as coisas de um ângulo diferente daquele que vivemos. Afinal, para muitos, com o tempo, a vida transforma-se em monotonia, perdendo essência e sentido. É o amor com que o príncipe guarda o seu mundo que é muito importante. É o amor que dá sentido à vida.
Parece um conto de fadas comum para as crianças e ao mesmo tempo para os adultos, para aqueles que se acham muito grandes, para aqueles que se perdem, e, sem dúvida, também para os sonhadores.
Anna Snishchuk
III
Eu devo admitir que tentei ler “O Principezinho” várias vezes na minha vida.
Eu nunca poderia ir além do capítulo 1… Eu estava errado ao pensar que era uma história para crianças. Só ficou claro ao ler a tradução em português que você deveria voltar à terra dos sonhos para cumprir a tarefa mais difícil – sobreviver!
Os antigos estavam certos quando diziam que “a verdade flui pela boca de uma criança”. A crença infantil de que tudo é possível permitiu que um adulto sobrevivesse numa situação extremamente difícil, apenas porque o seu subconsciente levou-o a um lugar – tempo onde a fé move montanhas.
Confesso que me emocionei muito com essa história, principalmente porque só em situações extremamente difíceis, um adulto começa a entender porque devemos proteger essa parte da criança que vive em nós.
Um educador maravilhoso, polaco – chamava-se Janusz Korczak, escreveu que “uma criança é um adulto… apenas pequeno, o adulto também é uma criança… só grande”.
Arkadiusz Panasiuk
IV
Eu não gosto de filmes, nem de histórias tristes, a vida já tem as suas tristezas, mas este conto é uma outra coisa.
Tinha lido “O Principezinho” quando o meu filho era pequeno, estávamos sempre juntos a ler.
Mas, “os homens crescidos”, às vezes, perdem a memória ou, talvez, esquecem-se daquilo que é importante…
E assim, foi esta uma oportunidade única (obrigada à nossa querida professora!). Sim, porque acho que ler uma tal história na idade adulta, muda todo o sentido dela.
Percebi nesta altura a ternura de uma amizade, a virtude da inocência na narrativa que surge da preocupação constante para com a sua flor, a inquietação provocada pela possibilidade da jiboia comer um elefante, para só se importar com um embondeiro bastante grande (altura em que ninguém se consegue livrar dele). O mesmo acontece com os conflitos, com os obstáculos, se não são quebrados no início resultam numa irremediável consequência (e bem sabemos de que falamos nestes dias).
Descobri também o narcisismo daqueles que são incapazes de ver mais do que a si mesmos. As pessoas grandes são assim.
O essencial da vida é invisível aos olhos. Por vezes, basta olhar com o coração para resolvermos os nossos problemas. Reconhecer o valor das coisas e das pessoas – é mais necessário e urgente ainda.
…Esta tarde, ao fechar a janela, olhei para o céu e vi uma estrela, sozinha, e, de repente, pensei no principezinho.
Sou uma adulta, aquela que já se lembra do seu passado enquanto olha para as estrelas… e então projeta o futuro.
Duilia Graziano
V
O que mais me impressionou na obra “O Principezinho” é a grande capacidade do autor abordar questões existenciais com palavras simples, essenciais, delicadas e amáveis.
É como se o autor tivesse concentrado todos os pensamentos dos maiores filósofos do mundo e os tivesse dissolvido numa substância mais leve para ser bebida de um só gole.
A mensagem que nos chega é clara e forte, o Bem e o Mal são os lados da mesma moeda, são inerentes ao Homem e ninguém pode fazer nada para aniquilar o Mal, mas certamente, como a raposa nos ensina, vale sempre a pena lutar por um Bem maior, onde o amor é mais importante e não a posse das coisas materiais.
Esta obra não pode deixar de tocar as cordas profundas do coração, pelo menos assim foi para mim.
Agradeço à professora Margarida por me dar a oportunidade de descobrir esta pequena joia, que nunca pensaria, algum dia, lê-la, pois dela guardava uma memória aborrecida.
Eu tinha 5 anos quando minha me lia uma parte dessa história todas as noites e lembro-me perfeitamente que eu insisti para que ela mudasse a história porque eu realmente não gostava dela, preferia a Branca Neve e os Sete Anões.
Mas, minha mãe disse-me que eu estava errada e que este era o conto de fadas mais bonito do mundo!
Agradeço novamente à professora Margarida porque, com este livro, ela fez-me relembrar um momento mágico de intimidade entre mim e minha mãe, que agora se tornou uma estrela que brilha e ri lá em cima.
Irene Giammaria
VI
“O Principezinho” é um livro com um design gráfico para crianças, contudo muito mais adequado para adultos se estiverem dispostos a valorizar as mensagens que este pequeno grande livro transmite.
O mais importante para mim é que “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos” – o que me fez recordar algo que me aconteceu há muitos anos.
Eu ainda estava trabalhando como gerente de banco em Roma. Um dos meus clientes, muito rico e sempre ocupado em ficar cada vez mais rico, um dia, descobriu que tinha um tumor incurável. Lembro-me de um dia ele dizer-me: “Maurizio, você sabe, eu levanto-me de manhã e fico fascinado ao ver o nascer do Sol, os pássaros indo e vindo dos seus ninhos, eu descobri como é bonito caminhar no meio da natureza e passar tempo com os entes queridos, antes, eu nem percebia essas coisas”.
Lembro-me que, mal segurando minhas lágrimas, o abracei com carinho.
O principezinho está dentro de cada um de nós, com poucas exceções, a mais marcante é certamente Putin! Talvez ele não o tenha lido e se o leu não entendeu nada!
Deve-se também dizer que ele não teve a sorte de ter a professora Margarida Vasconcelos para explicar isso.
“Slava Ukraini”
Maurizio Gambelli
VII
Embora “O Principezinho” transmita algumas sapiências simples, existem também inconsistências. A sapiência seria esperada de uma pessoa experiente, contudo, o principezinho faz perguntas que poderiam ser esperadas de uma criança.
Como o avião, o jardim de rosas e o poço foram concebidos e realizados por adultos que provavelmente eram cegos à visão de uma criança, a mensagem é que precisamos de ter a visão de uma criança incorporada na sapiência de um adulto.
Trata-se de um belo conto de fadas.
Michael Gut
VIII
A leitura da obra “O Principezinho” foi um trabalho cheio de nuances sobre os diferentes comportamentos das pessoas. Algumas vivem numa realidade desconectada de si mesmas, cada uma vivendo na sua própria bolha sem perceber o que a cerca.
A obra retrata também a importância de viver inocentemente, questionando sobre a própria vida e acima de tudo, filosofando.
Acho que o pequeno príncipe não respondeu às perguntas porque não se trata de obter respostas, trata-se de ações, de experiências… A nossa vida é feita com as respostas que damos à vida, mas essas respostas não são palavras ou conhecimento mental, é o próprio ato de viver.
Eu gostei muito de ler e explorar esta história.
Milena Fuentes
IX
“O Principezinho” conta a história de um piloto perdido no deserto do Saara e de um alegre rapazinho com os cabelos dourados que vem de outro planeta.
O principezinho é um menino curioso que tem um coração puro e cheio de alegria pela vida.
Para mim é um livro de aprendizagem interior, uma lição de vida para nós entendermos o valor do amor, do respeito, da amizade e da responsabilidade para com os que amamos. Também é uma história terna e melancólica que apresenta algumas reflexões sobre a tristeza, a solidão e sobre o que, de facto, são os valores da vida.
Concordo com o autor deste livro que nos convida a olhar o mundo com os olhos inocentes e puros dos meninos, porque “só as crianças é que sabem do que andam à procura “.
O escritor exorta-nos a seguir o conselho da sábia raposa que diz que “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.”
Já tinha lido “O Principezinho” no passado, mas adorei a leitura durante as aulas de português e acho que compreendi mais a sua profunda mensagem… se calhar, desta vez, li-o com o coração!
Sira Ferrari
EB1/PE c/ Creche do Porto Santo