Poesia

Querido leitor … relembrando o passado, quando os alunos da escola primária tinham  de memorizar e declamar poesia na escola… e como ode ao inverno, deixemo-nos embalar nesta leitura!

Balada da Neve

Batem leve, levemente

como quem chama por mim.

Será chuva? Será gente?

Gente não é, certamente

e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:

mas há pouco, há poucochinho,

nem uma agulha bulia 

na quieta melancolia

dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,

com tão estranha leveza,

que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,

nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía

do azul cinzento do céu,

branca e leve, branca e fria…

– Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho.

Passa gente, e quando passa,

os passos imprime e traça

na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais

da pobre gente que avança,

e noto, por entre os mais,

os traços miniaturais

duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…

a neve deixa inda vê-los,

primeiro, bem definidos,

depois, em sulcos compridos,

porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador

sofra tormentos, enfim!

Mas as crianças, Senhor,

Porque lhes dais tanta dor?!…

Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza, 

uma funda turbação

entra em mim, fica em mim presa.

Cai neve na Natureza

e cai no meu coração.

                                                                                      Autoria do poeta Augusto Gil

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